O recente Conselho Técnico da Série A, convocado na sede da CBF, atuou como uma espécie de Cavalo de Troia. Representantes dos 20 clubes deram sinal verde para várias inovações técnicas para o campeonato deste ano, mas a verdadeira intenção era estabelecer as bases para diminuir o domínio da CBF sobre futuras questões organizacionais.
O Conselho Nacional de Clubes foi reestruturado, fortalecendo sua capacidade de ser mais assertivo em vez de meramente consultivo, especialmente em relação aos aspectos comerciais do torneio. O objetivo geral é forçar a CBF a permitir que os clubes se auto-organizem a competição até 2027 através de uma estrutura de Liga. Assim, o acordo unânime entre os clubes, tradicionalmente divididos entre as facções Libra e LFU, destacou-se como uma vitória significativa.
Clubes como Flamengo, Fortaleza, Vasco, Inter e São Paulo agora formam o CNC, com o Palmeiras desfrutando de status permanente de convidado. Luiz Eduardo Baptista, conhecido como Bap e presidente do Flamengo, é o mais recente, mas também o mais militante defensor da reforma. Leila Pereira, do Palmeiras, é vista como uma peça-chave nessa transformação.
“Não é suficiente decidir simplesmente que vamos realizar um Campeonato Brasileiro. Duvido que consigamos coletivamente realizar a edição de 2026, mas acredito firmemente que, se nos unirmos a partir de agora, poderemos administrar efetivamente o torneio em 2027. Não pode ser mais um evento caótico como os anteriores. Mas isso levará tempo, e o CNC nos guiará na direção certa,” disse o presidente do Flamengo.
Enquanto a CBF celebrava o conjunto de emendas aprovadas, encontrou-se sob intensa fiscalização. Alguns clubes, incluindo Flamengo, declararam que não honrarão as distribuições financeiras atreladas a contratos comerciais considerados pela CBF como de sua jurisdição. Citando o Artigo 160 da Lei Geral do Esporte, os clubes não conseguiram remover o Artigo 113 do Regulamento Geral de Competições, que obriga esses pagamentos, mas indicaram que não irão cumprir.
Tudo será formalizado através do Conselho Nacional de Clubes, com a unidade em primeiro plano. Antes do Conselho Técnico, os clubes se reuniram na base do Flamengo para alinhar tópicos cruciais para discussão com a CBF. Entre eles estavam estudos sobre campos sintéticos, limites para jogadores estrangeiros (atualmente fixados em nove), fair play financeiro e o número de rebaixamentos por temporada.
Um ponto de debate foi a adoção de gramado sintético, com o Dr. Jorge Pagura apresentando uma descrição abrangente sobre as diferenças entre os tipos de campos. Atualmente não há evidências de que o gramado sintético prejudique os atletas. Embora não tenha ocorrido uma votação sobre sua remoção, há um compromisso do Conselho Nacional de Clubes em aprofundar a questão para alcançar um consenso que satisfaça todos os clubes.
Entre as mudanças unânimes, a competição adotará o Protocolo de Antirracismo implementado pela FIFA. Esta iniciativa, composta por três etapas, introduz um gesto global contra o racismo no futebol, permitindo que árbitros, jogadores ou oficiais sinalizem um ato racista cruzando os braços em formação de X.
Num primeiro notável, o Brasileiro de 2025 pausará novamente para as datas internacionais da FIFA. Para evitar conflitos com a Copa do Mundo de Clubes da FIFA, programada de 15 de junho a 13 de julho, a liga suspenderá partidas durante esse período. Flamengo, Fluminense, Palmeiras e Botafogo estarão competindo no evento da FIFA nos Estados Unidos, permitindo que os outros clubes realizem viagens ou campos de treinamento durante a intertemporada.
Esta edição do torneio também revelará um novo método de substituição de bola, semelhante ao Sistema de Múltiplas Bolas empregado na Premier League. Quinze bolas serão estrategicamente colocadas ao redor do campo, permitindo que os jogadores as recuperem facilmente, aumentando assim o tempo de jogo. A bola oficial para o Brasileiro de 2025 será a Nike Flight 25, com um design renovado.
Mudanças também estão a caminho na arbitragem. Um novo Comitê Consultivo de Especialistas Internacionais supervisionará as decisões de arbitragem durante toda a competição, composto por árbitros veteranos como Nicola Rizzoli, da Itália, que apitou a final da Copa do Mundo de 2014, junto com Nestor Pitana, da Argentina, e Sandro Meira Ricci, do Brasil, ambos com considerável experiência no palco global. Esta iniciativa faz parte da Comissão de Arbitragem reformulada, que inclui uma lista de nomes notáveis como Rodrigo Cintra e Luiz Flávio de Oliveira.
– Recurso: “https://oglobo.globo.com/blogs/diogo-dantas/coluna/2025/03/clubes-plantam-semente-para-reducao-do-poder-da-cbf-na-organizacao-do-brasileiro-entenda-movimento.ghtml”